Para se adaptarem à incerteza do mercado e ao aumento dos preços, os players no mercado terão de estar atentos e ter uma visão clara sobre o que se avizinha para a energia. Os mercados energéticos europeus têm passado por tempos tumultuosos, entre extrema volatilidade e preços recorde, tanto no mercado grossista, do qual a quadruplicação do preço do gás natural é paradigmática, como na eletricidade. A situação criou preocupações sobre os custos, que disparam. Mas, em parte graças a um inverno ameno, os preços caíram.
Este pequeno resumo da volatilidade dos últimos meses ilustra os desafios estruturais da Europa na transição para um sistema com redução de combustíveis fósseis e emissões CO2. Numa altura em que os esforços de descarbonização fazem aumentar a procura de eletricidade por toda a Europa, esta tenta responder ao desafio, sem precedentes, das restrições de abastecimento.
A combinação da guerra na Ucrânia, das perturbações nas instalações nucleares em França e da baixa produção das centrais hidroelétricas reduziram de forma significativa a energia elétrica disponível. A seca diminui a produção hidroelétrica em quase 20%, a produção dos reatores nucleares franceses baixou quase 15% e o fornecimento de gás natural por parte da Rússia – quase 30% antes da guerra da Ucrânia – tem vindo a diminuir. O gás natural é uma componente importante do mix energético e tem grande influência na fixação do preço.
Ao mesmo tempo, a procura de eletricidade continua a aumentar devido à descarbonização e eletrificação em vários setores. Estas tendências estruturais significam que os europeus estão a utilizar mais eletricidade do que nunca. As vendas de veículos elétricos (VE) e bombas de calor elétricas para edifícios e casas, por exemplo, aumentaram mais de 30%, enquanto a procura de eletricidade para a produção de ferro e aço aumentou 17%.
Como resultado, a Europa enfrenta a possibilidade real de escassez de fontes de energia elétrica, críticas para o equilíbrio do sistema de energia e para assegurar a existência de eletricidade suficiente nos momentos de pico de procura.
Para evitar este cenário e substituir a produção de energia disponível para consumo (dispatchble energy) perdida de gás natural, nuclear e hídrico, muitas empresas europeias aumentaram a produção de carvão – que deveria diminuir de forma drástica – enquanto outros players investem em fontes de baixo carbono, tais como hidrogénio e biomassa.
Cientes das implicações de faturas mais elevadas para empresas e consumidores, os decisores políticos e reguladores europeus discutem e procuram de forma ativa soluções para atenuar o impacto económico dos preços elevados da energia. Quase todos os governos da UE procuram pagamentos diretos às famílias ou reduções nas faturas com impostos mais baixos.
Embora todos estes esforços tenham sem dúvida impactos positivos, não é provável que os desafios acabem em breve. Com o aumento previsto da frequência das ondas de calor de alta intensidade, interrupções adicionais de instalações nucleares planeadas para este ano e a continuação da redução das importações de gás russo, a expetativa é os preços da energia no mercado grossista se mantenham elevados até pelo menos 2027.
Um cenário que exige a procura por parte dos consumidores, individuais e coletivos, de soluções energéticas alternativas, eficientes e eficazes, que permitam limitar o máximo possível o aumento da fatura de eletricidade.