A transição energética e o desenvolvimento sustentável enfrentam múltiplos desafios. Para começar, o desafio de assegurar que o público e os decisores políticos aprendem com as provas científicas e factuais e modificam os seus pontos de vista e padrões de consumo em conformidade.
No entanto, mesmo que o mundo esteja plenamente convencido dos riscos ambientais da continuação das tendências atuais, a tarefa é enorme. Envolve a transformação atempada do sistema energético, num processo complexo e potencialmente moroso.
O sistema energético aproveita os recursos naturais e transforma-os em vetores de energia que são utilizados pelos aparelhos e máquinas que fornecem serviços energéticos, como o calor, a refrigeração e os transportes, entre outros. A prestação de serviços energéticos às gerações atuais e futuras exige sistemas energéticos sustentáveis.
É amplamente reconhecido que muitas das tecnologias necessárias para apoiar o desenvolvimento sustentável já estão disponíveis. A questão consiste em saber como melhorar essas tecnologias, acelerar as reduções de custos e conseguir mudanças significativas, integrando essas tecnologias em projetos de desenvolvimento sustentável, que respondam a necessidades locais e sectoriais específicas, e proporcionado incentivos e mecanismos para uma rápida inovação, difusão e partilha de conhecimentos.
Na medida em que os sistemas energéticos têm múltiplas interações com a economia, a sociedade e o ambiente (incluindo inter-relações com outros sistemas de recursos físicos e de produtos de base), a única forma de criar sustentabilidade no sistema energético é introduzir uma gestão sustentável dessas interações económicas, sociais e ambientais.
Um cenário de desafios locais
O verdadeiro desafio para Portugal pode não residir na disponibilidade de recursos energéticos renováveis, mas na sua ligação, transporte e distribuição. Apostar num elevado nível de eletrificação, num país onde os preços da eletricidade são elevados, pode revelar-se uma exigência considerável para os consumidores.
Portugal apresenta dos custos mais elevados da eletricidade para os agregados familiares na UE, apesar dos níveis de rendimento relativamente baixos para os padrões da região. Uma elevada percentagem deste preço é composta por tarifas e impostos diversos.
Além disso, no contexto da produção, as ligações à rede têm sido e continuam a ser um obstáculo, devido à falta de disponibilidade e à complexidade dos procedimentos de licenciamento. O sucesso dos concursos para energia solar fotovoltaica em Portugal, que se destacaram a nível mundial, reflete em grande medida a inclusão de ligações garantidas à rede.
Portugal dispõe de vastos recursos eólicos e solares, mas permanece relativamente isolado do resto da Europa, o que dificulta a injeção de eletricidade renovável nas redes da Europa Central. Em março de 2018, Portugal produziu mais eletricidade a partir de energias renováveis do que realmente necessitava. Esta foi a primeira vez no século XXI que a quantidade de eletricidade produzida excedeu o consumo. No entanto, a falta de ligações energéticas com o resto da Europa continua a ser um desafio. Sem uma rede elétrica devidamente conectada ou um sistema de armazenamento bem desenvolvido, parte desta energia acaba desperdiçada.